Durante muitos anos, a prática de exercícios de alongamento foi aplicada brutalmente por professores em academias, isso se deve ao fato de a flexibilidade ser uma capacidade física que está diretamente relacionada à saúde (PATE, 1983). A literatura científica deixa bem definido que existem apenas 3 razões para a utilização dos exercícios de alongamento: MANUTENÇÃO OU AUMENTO da flexibilidade e ESTIMULAÇÃO DA SÍNTESE PROTEICA.
Porém, algumas perguntas muito frequentes feitas por alunos no ambiente de academia foram, algumas vezes, respondidas de maneira equivocada e sem nenhuma fundamentação teórico-cientifica. Pensando nisto, a Academia Fit 4 You vai tentar sanar algumas dessas dúvidas apresentando relatos científicos sobre o assunto.
PERGUNTA 1: ALONGAMENTO PREVINE LESÕES? Não existe ainda sustentação científica que comprove o efeito protetor do alongamento. Tal argumento sempre esteve baseado na ideia de que o alongamento tem efeito sobre as propriedades viscoelásticas da junção musculo-tendínea, resultando em menor rigidez tecidual, possibilitando maior flexibilidade o que necessitaria de mais força para rompê-lo (HASS & HECKER, 2003; CLARK, 2008). Estudos realizados com militares e corredores evidenciaram que exercícios de alongamento não foram eficazes na prevenção de injúrias nos músculos posteriores da perna, deixando bem claro que indivíduos que foram ou não submetidos à rotina de alongamento sofrem injúria muscular após treinamento de corrida (HERBERT, 2002; WELDON, 2003; MAGNUSSON, 2006).
PERGUNTA 2: ALONGAMENTO ALIVIA A DOR PÓS EXERCÍCIO? Não! A dor muscular de início tardio ou a dor do dia seguinte é advinda de atividades que envolvem esforços de alta intensidade na fase excêntrica do exercício (fase de alongamento). Nesta fase, os sarcômeros mais fracos se rompem passivamente geram micro lesões na musculatura trabalhada, tais lesões vão gerar um processo inflamatório local ocasionando no dia seguinte uma resposta de dor, inchaço, redução da força e rigidez (CONNOLLY et al, 2003). O exercício de alongamento tem por finalidade provocar os mesmos efeitos para que haja em longo prazo aumento da amplitude de movimento, ou seja, se você treinar e depois se alongar, estará aumentando essas respostas provocadas pelo exercício. E se fizer o alongamento antes do treinamento poderá também induzir a musculatura a mais micro lesões. E aí você está preparado para sentir tamanha dor no dia seguinte?
PERGUNTA 3: ALONGAR PARA AQUECER E MELHORAR O MEU DESEMPENHO NO TREINO? Definitivamente não! Em um estudo realizado na UNIVERSIDADE METODISTA DE PIRACICABA em 2014, universitários do curso de Educação Física experientes em treinamento de força foram submetidos a um protocolo de alongamento passivo de 6 séries de 45 de alongamento intenso precedidos por 15 segundos de descanso passivo (parado) em diferentes momentos. MOMENTO 1: sessão de alongamento e depois realizava 4×10 repetições MÁXIMAS no SUPINO RETO com 1’ de intervalo entre as séries. MOMENTO 2: 4×10 repetições MÁXIMAS no SUPINO RETO com 1’ de intervalo entre as séries e depois sessão de 6 séries de 45” de ALONGAMENTO INTENSO por 15” de DESCANSO PASSIVO. Os resultados mostraram que fazer o alongamento antes ou depois do treino, não mudou em nada no desempenho entre as séries e nem influenciou no aumento da carga de treino.
PERGUNTA 4: ENTÃO, QUANDO ALONGAR E PARA QUÊ? Simples! Você só vai fazer exercícios de alongamento caso seu professor veja como necessário utilizar este método para MANTER E/OU AUMENTAR a amplitude de movimento ou ESTIMULAR A SÍNTESE PROTEICA.
Então não perca seu tempo fazendo exercícios sem a orientação de um profissional de Educação Física, pois você pode acabar sofrendo com desconfortos desnecessários.
Texto de Raphael Machado com informações de:
REFERÊNCIAS:
Clark RA. Hamstring Injuries: Risk Assessment and Injury Prevention. Ann Acad Med Singapore 2008; 37(4): 341-346.
Connolly D, Sayers S, McHugh M. Treatment and Prevention of Delayed Onset Muscle Soreness. J Strength Cond Res 2003; 17(1):197.
Herbert R. Effects of stretching before and after exercising on muscle soreness and risk of injury: systematic review. BMJ 2002; 325 (7362):468-468.
Hess J, Hecker S. Stretching at Work for Injury Prevention: Issues, Evidence, and Recommendations. Appl Occup Environ Hyg 2003; 18(5):331-338.
LOPES, Charles Ricardo et al. Effects of passive stretching protocol on multiple sets performance in resistance training. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 21, n. 3, p. 224-229, 2015.
Magnusson P, Renström P. The European College of Sports Sciences Position statement: The role of stretching exercises in sports. Eur J Sport Sci 2006; 6(2):87-91.
Weldon S, Hill R. The efficacy of stretching for prevention of exercise-related injury: a systematic review of the literature. Man Ther 2003; 8(3):141-150.
PATE, R. R. A new definition of youth fitness. Physician Sportsmed, v. 11, p. 77-83, 1983.